segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Carta aberta ao Poeta

          (para Vinicius de Moraes)        
       
          Como pode me conheceres tão bem,
          se eu nasci depois que tu partiste?
          Como pode seres feito um porta-voz
          sem que, ao menos, eu tenho me confessado
          por noites e dias trancados a fio, como num vigília?

          Obrigado por ter dito tanta coisa que eu gostaria de dizer
          e não encontrava as palavras certas;
          por gritar pros meus olhos coisas que inflamavam -- mudas --
          dentro do meu peito de menino;
          e por me abrir os mesmos olhos, marejados,
          para a simplicidade dos gestos - morada da real poesia.
          Parafraseando Drummond: a poesia apenas, sem mistificação.

          Parabéns por ser imortal
          posto que não és chama nem brasa;
          és poeta.

          Feliz aniversário.

          Carinhosamente,

          Hugo César.

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