Sons, palavras, são navalhas,
já diria Belchior,
sem o mínimo de dó
nem um pingo despeito,
pois dó só se for maior
que a ressaca dos festejos,
apertada, neste peito,
com um laço de serpentina...
que a ressaca dos festejos,
apertada, neste peito,
com um laço de serpentina...
Já que assim são as palavras,
revelai, ó meu senhor;
revelai, ó meu senhor;
revelai, também, sem dó
o que vem a ser ausência,
que mata um pouco por dia,
como João Cabral diria:
- Severino de Maria,
- Aqui jazz um sertanejo
Ausência não de comida,
digo eu ainda em vida
Mas ausência das palavras
Pois quando não há palavras
é como um tiro certeiro,
uma guerra sem desfecho,
cada vez que eu não escuto
qualquer coisa do teu eco
que surgia no teu grito;
qualquer brisa, qualquer bala;
qualquer sopro em minha cara
que não teu silencio aflito
É por isso que eu te chamo,
te permito essa batalha.
Pode vir, vem com navalhas,
talha minha carne fraca
e, num ato de desespero,
corta o meu coração vivo!
Só uma coisa eu te peço:
não cega o gume da faca,
porque eu não mereço a chaga,
ou qualquer corte parecido,
que a natureza não sara...
E, se a tua voz se cala,
tudo fica em carne viva.
Hugo
César