A vida é um sopro de vela
é a cera queimando
é pavio em vapor
A vida é um beijo que seca
é um abraço que aquece
quem já descansou
E, quando a vela se apaga,
não há mais remédio
nem frio nem calor;
somente o amargo que sobra
somente o amargo que sobra
o sumo do amargo
que, às vezes, transborda,
rente à boca acesa
de alguém que ficou
tostando
de chama e remorso
ardendo no escuro
dos olhos molhados
com o gosto de nunca
se vê perdoado
porque já é tarde,
e a tarde calou.
Hugo César